Curitibana cria plataforma que permite mulheres verificarem se namorados em potencial têm histórico de violência
29/10/2025
(Foto: Reprodução) Curitibana cria plataforma para mulheres verificarem se namorados têm histórico violento
Foi vendo o caso de uma mulher que não sabia o passado de violência do namorado que a curitibana Sabrine Matos, de 29 anos, criou um projeto que pretende colaborar com a segurança feminina. Ela idealizou a plataforma Plinq, que permite checar antecedentes criminais e registros de processos de potenciais relacionamentos amorosos.
O caso que inspirou Sabrine foi o de Vanessa Ricarte, jornalista de Mato Grosso do Sul, assassinada pelo ex-noivo em fevereiro deste ano. Segundo a investigação, durante o namoro, Vanessa não sabia da existência de pelo menos 14 processos de violência doméstica que tramitavam contra ele.
"Eu fiquei com aquilo na cabeça. Pensei em quantas mulheres já viveram ou vivem algo parecido simplesmente por não terem acesso fácil à informação”, conta Sabrine.
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A plataforma foi lançada em maio deste ano e, em menos de dois meses, ultrapassou 15 mil usuárias, que pagam R$ 97 por ano para utilizá-la. O funcionamento foi pensado para que a mulher consiga, com poucos cliques, informações simplificadas sobre processos criminais, mandados de prisão e outras ocorrências que eventualmente pesem contra um namorado, por exemplo.
O sistema oferece para as mulheres, ainda, uma espécie de tradutor do que cada processo significa. Alertas em cores ajudam a usuária a identificar potenciais riscos de forma intuitiva. No caso de uma avaliação red flag – bandeira vermelha, em inglês –, a plataforma deixa uma orientação para a usuária:
"Com base na análise dos processo judiciais relacionados a [nome do homem], tivemos acesso a múltiplas informações que indiciam a existência de processos em segredo de justiça. Essas circunstâncias dificultam determinar se ele é vítima, acusado, advogado ou outra parte envolvida, o que torna essencial uma conversa franca e uma avaliação cuidadosa antes de qualquer encontro. Recomendo, com toda atenção, que prossiga com cautela e busque conhecer melhor a pessoa, sempre priorizando a sua segurança."
No caso de categorização com green flag – bandeira verde –, a plataforma também acende um alerta: "A ausência de registros públicos não garante que a pessoa não tenha passado por situações que não estejam registradas [...] Uma conversa franca pode ajudar a criar um ambiente de confiança e segurança para ambos".
Plinq categoriza perfis em 'red flag', 'green flag' e 'yellow flag'
Reprodução
A engenheira Greisa Mesquita foi uma das primeiras usuárias da plataforma. Ela conta que, inicialmente, queria pesquisar o histórico de homens que conhecia por aplicativo, mas, com o tempo, passou a usar as pesquisas para contatos de serviço, como caronas.
“Uma vez fui olhar o nome de um motorista de carona e descobri processos por agressão. Cancelei na hora. Hoje não encontro ninguém sem verificar antes. É um filtro. A gente não pode impedir que alguém seja violento, mas pode evitar se colocar em risco", disse.
Para informar as usuárias, a plataforma usa bases de dados públicas, disponíveis em tribunais e diários oficiais, e por isso não há infração à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), conforme Sabrine. A proposta, segundo a fundadora, é organizar informações que antes estavam dispersas.
A plataforma também oferece acesso ilimitado para pesquisas sem exposição pública dos nomes das usuárias ou de pessoas que eles consultaram. Além disso, a Plinq não detalha o teor dos processos contra os homens: ela foca em mostrar informações gerais e motivo que os levaram a responder um processo judicialmente, por exemplo.
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O desenvolvimento da plataforma
A Plinq foi desenvolvida por Sabrine e funciona em parceria com os sócios Felipe Bahia e Micael Marques. O desenvolvimento foi por meio de uma plataforma de inteligência artificial sueca que cria sites e aplicativos a partir de descrições em "linguagem natural", sem a necessidade de conhecimento em programação.
Sabrine trabalha com marketing digital e conta que a ideia surgiu sem pretensão de virar negócio. Em pouco tempo, porém, a procura consolidou o projeto, que faturou mais de R$ 250 mil e projeta alcançar três milhões de usuárias.
O incentivo que faltava para a plataforma sair do papel, segundo Sabrine, veio da mãe dela.
"Minha mãe virou pra mim e falou assim: 'você trabalha com tecnologia, fica no computador o dia todo, será que não tem nada que dê pra fazer pra deixar essa informação mais acessível?"
Desde o lançamento da Plinq, os sócios faturaram mais de R$ 250 mil. Eles projetam alcançar 3 milhões de usuárias ainda este ano.
Sabrine Matos, criadora da Plinq
Arquivo pessoal
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Informação é importante para evitar violência, avalia especialista
A advogada Alessandra Abraão, especialista em direito das mulheres, explica que, no contexto de violência doméstica, municiar mulheres com informações é importante.
Ela destaca que o acesso a dados públicos pode ser um instrumento de proteção, principalmente em um país onde o feminicídio é uma realidade diária. No entanto, pontua, é fundamental garantir que a informação seja usada com responsabilidade para não gerar injustiças ou exposição indevida.
Pensando em informação para mulheres, está em tramitação um projeto na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) que propõe criar o Cadastro Estadual de Condenados por violência doméstica e familiar contra mulheres. De autoria do deputado Tito Barrichelo (União), a proposta também pretende dar às mulheres um local de consulta sobre homens com histórico de agressão e outros tipos de violência contra as mulheres.
A proposta está na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e não tem tem data para chegar ao plenário.
Outra projeto similar, cita Alessandra, foi criado no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), que instituiu o Cadastro Nacional de Casos de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. O projeto é restrito aos membros e servidores do MP, mas serve de base para políticas públicas e ações de prevenção à violência.
"Quanto mais rápido uma mulher tem informação, mais fácil vai evitar o crime", afirma Alessandra.
No Paraná, de janeiro a agosto de 2025, foram registrados 158.839 casos de violência contra a mulher, segundo dados da Secretaria da Segurança Pública (SESP). O número de casos violência doméstica contra mulher foi de 48.110 registros no mesmo período.
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